A Estrela da Manhã

De acordo com dados não oficiais, os bolsonaristas de raiz (não utilizo o termo pejorativo que lhes é aplicado, em respeito aos amigos que ainda estão no clima do “E la Nave Va”) perfazem cerca de 12% dos 58 milhões do eleitorado de Bolsonaro. Menos, portanto, do que os “lula livre”, ou seja, quase 50% dos 47 milhões que votaram em Fernando Haddad. Segundo comentários colhidos nas redes sociais, os bolsonaristas de raiz podem se classificados, grosso modo, em três categorias:

1) os violentos e primários que abdicaram, por incapacidade, fanatismo ou comodidade, da prerrogativa de analisar os acontecimentos políticos e repercutem ou suplantam as provocações do líder, culminando seus críticos de palavras de baixo calão; são, em geral, os que se referem a Bolsonaro como “mito” (como todo mito, irreal), o equivalente ao “Lula livre” (não o será tão cedo);

2) os que reagem às críticas a Bolsonaro, mas não apresentam argumentos que a elas se contraponham, além de arguírem que “assim você não está ajudando o governo” ou “assim você está dando munição à oposição”; ambas as categorias são as que continuam a divulgar, em clima de campanha, matéria contrária ao PT, seus líderes e seus cúmplices, bem como a partidos aliados, como o DEM e o NOVO, que são chamados de “isentões”; acusam, ademais, seus desafetos, até reconhecidas figuras da direita, como o deputado Kim Kataguiri, que acaba de abandonar o barco, de petista, ladrão e corrupto;

3) os que, em nítida minoria, procuram rebater as críticas com um mínimo de argumentos racionais.

Em homenagem aos bolsonaristas de raiz e aos “lula livre”, que o são por amor ou oportunismo, dedico poema de Manuel Bandeira. Ambos querem uma estrela da manhã, a qualquer custo.

A Estrela da Manhã

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa? Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras

Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
eu quero a estrela da manhã

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