Diplomacia: Pátio de Recreio para Filhos de Presidentes da República?

Quem de direito, ou seja, a Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB), já se manifestou sobre o assunto em nota publicada,  inclusive, em redes sociais.  Bem representado, venho, assim, tratando de não participar da insânia que, em princípio, jamais deveria ter sido sequer insinuada. Ademais, tendo votado em Jair Bolsonaro, sinto-me corresponsável por seus atos e desconfortável ao criticá-los.

Contudo, não posso omitir minha convicção, que espero sirva de reflexão para amigos que muito prezo, de que diplomacia não é pátio de recreio para filhos de presidentes da república e que, caso o projeto prospere,  a política externa brasileira terá chegado, finalmente, na cozinha, onde comadreos se desenvolvem á beira do calor das grelhas.

Não creio que haja impedimentos legais quanto à indicação excepcional (artigo 41, parágrafo único, da Lei Nº 11.440, de 29 de dezembro de 2006) de qualquer cidadão, prerrogativa do presidente da república, para chefiar missões diplomáticas, seja pai, filho ou neto de quem quer que seja, desde que brasileiro nato, maior de 35 anos  e cumpra requisitos que, em última análise, podem ser subjetivamente avaliados.  A legalidade da proposta, no entanto, não é o problema e estou seguro de que  pessoas medianamente inteligentes, cultas e experientes identificam perfeitamente onde residem os empecilhos.

De resto, é surpreendente verificar o despeito, o ressentimento, a inveja ou seja lá o que for que afloram em determinadas postagens em relação ao Itamaraty, cujos membros, em sua quase totalidade, representam os interesses do Brasil no exterior, há quase dois séculos, com lealdade, dignidade e competência, mesmo em tempos adversos, como os do governo militar e os do governo do partido dos trabalhadores, que tudo fez para eviscerá-lo.

Quanto à participação do candidato na comissão de relações exteriores da câmara,  nomeá-lo equivaleria a autorizar presidentes de clubes de aeromodelismo, sem quaisquer outras qualificações,  a comandar boeings 777.

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