Salvo se me convencerem, com sólidos argumentos, do contrário, continuarei acreditando que a Amazônia é nossa e que ninguém, com exceção dos brasileiros, a quer. Ocupei, durante quatro anos, posição chave da política externa brasileira relacionada à Amazônia. Trata-se de área equivalente à da União Europeia, correspondente a mais da metade do território nacional, detentora dos 2/3 mais sensíveis das nossas fronteiras continentais, limítrofe de um departamento francês e de seis países sul-americanos, também amazônicos, de extrema complexidade política, econômica e social.
De difícil governabilidade, tendo em vista a geografia e a falta de recursos federal e estaduais, a Amazônia brasileira, dividida entre sete estados, apresenta a segunda menor população do país, embora equivalente à do Chile, com uma densidade de apenas 4,72 habitantes por km². A ocupação é diversificada e problemática: ribeirinhos carentes e desamparados, seringueiros politizados, cuja atividade está em declínio, madeireiros e garimpeiros que agem na clandestinidade, traficantes, ONGs de todos os matizes e indígenas nos mais diversos estágios civilizatórios. Alguém se habilita?
Permito-me lembrar que, caso a comunidade internacional decidisse intervir na América do Sul, o alvo seria a Venezuela, igualmente amazônica, cujo governo continua firme e forte, apesar de toda a movimentação para apeá-lo. Por outro lado, se a França não logrou transformar seu departamento ultramarino em exemplo de ocupação sustentável da Amazônia, não tem cacife para opinar sobre o bioma brasileiro. O que todos, enfim, almejam é que a Amazônia não entre em combustão. No caso de Macron, utilizar suas queimadas para não honrar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Ademais, como venho chamando a atenção há, pelo menos, duas décadas, a internacionalização da Amazônia conta com ponta de iceberg a algumas centenas de quilômetros da fronteira brasileira. Denomina-se Iwokrama International Centre for Rain Forest Conservation and Development, naco considerável da Amazônia doado pela Guiana à comunidade internacional, em represália às reivindicações territoriais da Venezuela . Não vou replicar as matérias que tenho publicado a respeito do assunto. Quem estiver interessado em saber mais poderá pesquisar no Google ou ler “A Internacionalização da Amazônia” no blog “passealimpo”.
O centro é gerido por junta internacional de curadores designados pelo governo da Guiana e pela Commonwealth e conta, entre seus principais financiadores, com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Fundo da Commonwealth para a Cooperação Técnica (FCCT), a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), o Departamento Britânico para o Desenvolvimento Internacional (DFID), a Comissão Européia (CE) e a Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA). A realidade, no entanto, é que, apesar de tudo e do título pomposo, nunca logrou ser mais do que um resort para turistas europeus e norte-americanos conhecerem tribos indígenas, a fauna e a flora amazônicas.