A negaça (recusa com pirraça) de Bolsonaro quanto à observância do confinamento social e sua cruzada contra o fechamento do comércio, pelo menos até que as autoridades competentes, no caso o Ministério da Saúde, se considerem minimamente preparadas para enfrentar o coronavírus, valeu-lhe isolamento internacional, nacional e intramuros.
Na contramão dos principais líderes do planeta, suas posturas idiossincráticas contrariam as recomendações da OMS – não adianta contextualizar as palavras do Diretor-Geral – e até as de Donald Trump, do qual se considera avatar e cujo país tornou-se o epicentro da pandemia em virtude da lentidão do seu governo em admitir-lhe a gravidade. A respeito, nada mais significativo do que o jornal inglês “The Gardian” considerar Bolsonaro “um perigo para os brasileiros”.
No plano interno, seus inimigos preferenciais, no momento, são os governadores, que, após tentar em vão coordenar-se com o governo federal, passaram a atuar independentemente, a ponto de ameaçar o próprio pacto federativo. Não bastasse, Bolsonaro mantém “on the hook” (no anzol), seus antigos desafetos, ou seja, os presidentes do poder legislativo, onde sequer conta com um partido político, após implodir o seu, e o do judiciário.
Intramuros, o Ministro da Saúde, com o apoio de alguns de seus pares, do legislativo, do judiciário e de segmentos da ala militar, isolou o Presidente, que passou a falar para uma claque militante, mas em nítida contração. A situação de Mandetta, desacreditado pelo presidente, é de impasse: consciente de sua responsabilidade, não se demite, enquanto Bolsonaro não ousa exonerá-lo, tendo em vista o impacto da medida em sua declinante popularidade.
Entrementes, o gabinete de apoio virtual a Bolsonaro foi reforçado pelo Vereador Carlos Bolsonaro que, ganhou, inclusive, sala no Palácio. Nos últimos dias, seus tuítes e publicações em redes sociais triplicaram, replicadas por um exército cibernético reativado, sem nenhum compromisso com a veracidade ou a oportunidade das mensagens. Indigna, para dizer o mínimo, é uma caricatura do Governador de São Paulo que o apresenta como um mauricinho, diante das gargalhadas do Bolsonaro. Enfim, a demonstração de amor e dedicação filial é comovente e, pessoalmente, gostaria de reviver o clima da campanha eleitoral de 2018, alegre, combativa, repleta de esperança e confiança no futuro. Só que não!