LEGISLATIVO
O Legislativo encontra-se de tocaia, ou melhor, os lobos de pelagem nobre estão recolhidos ao covil. Não têm sequer revidado os ataques de Bolsonaro e, apesar dos mais de trinta pedidos de impedimento do Chefe do Executivo que se acumulam na gaveta de Rodrigo Maia, os Presidentes das Casas do Congresso não desejam assumir o protagonismo do processo. Exercitam a principal virtude de Tancredo Neves, ou seja, a paciência, e preferem se dedicar à aprovação de medidas necessárias ao combate da pandemia, bem como se fortalecer internamente, retomando inclusive, às vésperas da definição de suas respectivas sucessões (janeiro de 2021), o controle do centrão cooptado por Bolsonaro.
Quanto aos 57 milhões de votos do Presidente da República, Tancredo Neves entra novamente em campo com sua máxima de que “votos não se tem, se teve”, a fim de corroborar que seu eleitorado se reduz atualmente a 41,2 milhões, segundo as mais recentes estatísticas. Ao desempenho eleitoral de Bolsonaro em 2018, contrapõem-se, ademais, os 98,3 milhões de votos que somente os Deputados, sem contar os Senadores, receberam nas mesmas eleições. Enfim, o jogo político continua a ser jogado, mas, a exemplo do que ocorre com as partidas de futebol em tempos de coronavírus, sem plateia, até para evitar as desgastantes manifestações descontroladas de bolsonaristas que ainda persistem em apoiar o Presidente.
JUDICIÁRIO
O Judiciário, por sua vez, foi alçado à condição de protagonista através de uma sequência de fatos fáceis de traçar: exoneração do Diretor-Geral da Polícia Federal, pedido de demissão de Moro, acusações de interferência na Polícia Federal, pedido da Procuradoria-Geral de abertura de inquérito contra o delator (Moro) e o delatado (Bolsonaro), a fim de equilibrar a contenda, e, finalmente, autorização do Ministro Celso de Mello para a abertura do inquérito. Apesar de sua placidez e contenção, o Decano do Supremo Tribunal Federal estaria com sangue nos olhos, tendo em vista as ofensas e ameaças anticonstitucionais, prejudiciais ao próprio “mito”, que a Corte tem recebido da claque presidencial, bem como a necessidade de concluir o processo antes de sua aposentadoria em novembro vindouro.
Especula-se, outrossim, que Celso de Mello estaria buscando uma fórmula rápida de concretizar o afastamento do Presidente da República, o que, aliás, foi sugerido pela Deputada Janaina Pachoal, autoridade na matéria e uma das autoras do calvário político da Dilma: “Nós não temos tempo para um processo de impeachment”. Outras finalizações, além, é claro, de uma renúncia, estariam previstas, ou seja, a conclusão das investigações, a recusa do Procurador-Geral em denunciar Bolsonaro ao STF e o consequente arquivamento do processo, improvável diante da recente divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, ou a formalização da denúncia e seu encaminhamento à Câmara dos Deputados que daria seu aval para que o Presidente da República, afastado por 180 dias, seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal. É nesse cenário que entra o centrão que impediu, por duas vezes, que Temer fosse réu. Existe, ainda, a possibilidade de a Câmara considerar que houve crime de responsabilidade e iniciar um processo de impedimento que correria independente do ou paralelamente ao julgamento do STF.
EXECUTIVO
O Executivo, obviamente, está a reboque da situação, até o presente momento. Finalmente, Dora Kramer lembra que “políticos…até acompanham o enterro, mas não se deixam enterrar na companhia do falecido”.
Publicado em 12/05/2020