Collor no Itamaraty? O que Podemos Esperar

Peço vênia para esclarecer àqueles que colocaram em dúvida, nas redes sociais, a veracidade de que o nome de Fernando Collor de Mello foi cogitado pelo Centrão para ocupar o Ministério das Relações Exteriores que, ao receber a informação, fui, como sempre, confirmá-la junto à imprensa e verifiquei que a notícia tinha sido veiculada por “O Antagonista” que citou Andréia Sadi, uma das jornalistas mais qualificadas do país, como fonte, com a variante de que a escolha teria sido feita pela ala política do governo. Reafirmo a meus leitores do “passealimpo” e a meus amigos do Facebook, com quem compartilho as publicações do blog, que procuro – sem exceção – confirmar as informações que recebo junto a órgãos de imprensa e a jornalistas idôneos. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que o blog é lido por pessoas responsáveis que buscam análises baseadas em notícias procedentes e que, certamente, têm acesso a instrumentos capazes de detectar “fake news”.

Dito isto, vamos ao que interessa. Numa breve avaliação da indicação do Centrão de Fernando Collor de Mello para o Ministério das Relações Exteriores – não a estou defendendo, uma vez que há nomes melhores, preferentemente nas fileiras do Itamaraty, para ocupar o cargo – é bom lembrar, primeiramente, que o Supremo Tribunal Federal arquivou, em 1994, o processo contra Collor pelo crime de corrupção passiva do qual havia sido acusado, em 1992, por ocasião do seu impeachment. Na verdade, ele renunciou antes que o processo que levaria à cassação dos seus direitos políticos por oito anos – Dilma Rousseff foi mais beneficiada – fosse aprovado. Sua inelegibilidade, no entanto, não foi revertida, tendo voltado à política, sem êxito, somente em 2002. Foi eleito e reeleito Senador, em 2006 e em 2014.

Durante o curto período do seu governo (março de 1990 a dezembro de 1992), Collor pautou sua agenda econômica pelo Consenso de Washington, ou seja, as dez regras básicas, formuladas em 1989, ao final da Guerra Fria, que se transformaram na receita oficial, de cunho neoliberalizante, do Fundo Monetário Internacional, a fim de promover ajustes macroeconômicos nos países em desenvolvimento. Collor abandonou, assim, o “paradigma desenvolvimentista”, herdado e exacerbado pelos governos militares, e estabeleceu uma relação de subserviência aos Estados Unidos que os Generais-Presidentes colocaram discretamente num banho-maria que quase secou no governo Geisel.

Foi Collor, ademais, quem assinou, em 1991, o Tratado de Assunção que criou o Mercado Comum do Sul (Mercosul), cujas negociações, iniciadas no governo Sarney, concluiu com êxito. Desde então, é um incansável defensor do bloco, pregando, inclusive, como o fez recentemente, uma maior coordenação macroeconômica entre seus membros. O ex-presidente promoveu, ainda, a abertura da economia brasileira ao mercado externo, aumentando a competitividade da indústria e buscando recuperar o atraso, sobretudo na automobilística e na informática, ocasionada por anos de aderência ao processo de substituição de importações. Implementou, ademais, o Plano Nacional de Desestatização (PND) que privatizou 18 empresas, sobretudo na área da siderurgia. Creio que estes dois últimos parágrafos são suficientes para podermos afirmar que os pontos de contato com o programa do Paulo Guedes são consideráveis.

Finalmente, o Senador foi Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado entre 2017 e 2019, quando viajou intensamente e manteve contatos com líderes controversos como o Presidente da Síria, Bashar al-Assad, e o Presidente do Parlamento iraniaro, Ali Larijani, com os quais demonstrou tato e jogo de cintura, conforme o testemunho de diplomatas que o assistiram nessas visitas. Sempre respeitou o Itamaraty, embora seu Chancelter tenha sido Francisco Resek que exerceu o cargo com o único intuito de ser eleito Juiz da Corte Internaconal de Justiça. Collor é inteligente, educado, culto, elegante, sofisticado e fala, pelo menos, três ou quatro idiomas, conforme testemunhei ao conhecê-lo, em 1970, assim que cheguei a Brasília. Está casado, atualmente, com a arquiteta Caroline Medeiros com quem tem duas filhas gêmeas. No mais, está enrolado com a Justiça, assim como ¼ dos membros do Centrão, inclusive o atual Presidente da Câmara dos Deputados. Tirem suas próprias conclusões sobre as possibilidades da notícia ser verdadeira.

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