Apenas uma reflexão neste fim de domingo de Páscoa, sombriamente passado em isolamento, longe da família e dos amigos que, felizmente, se comunicaram por todos os meios possíveis, a fim de guindar meu estado de espírito.
É desalentador que o Ministro Kássio Nunes Marques, recentemente nomeado por Bolsonaro para o Supremo Tribunal Federal, tenha decretado, do alto da sua sabedoria jurídica, a reabertura de templos, ainda que com a observância de todos os protocolos de higiene, alguns de difícil implementação. Ignora, ou finge ignorar, a fim de contemplar a aversão de seu patrono ao isolamento social, que simplesmente deslocar-se, sair de casa, diante da atual taxa de transmissão do vírus, é uma ameaça aos fiéis, sobretudo aos que pertencem a grupos de risco que, normalmente, são os que fazem questão de comparecer aos templos, a fim de orar e depositar seus dízimos (para alguns, o que realmente importa), nesta época do ano.
Representa, outrossim, uma afronta ao Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Luiz Fux, que participou da reunião de criação do comitê formado pelos três poderes para o enfrentamento da pandemia. Na ocasião, Fux declarou que sua atuação teria de ser limitada, uma vez que a Corte deverá ser chamada a julgar casos relacionados à pandemia, mas comprometeu-se a atuar, dentro de sua capacidade, no sentido de apoiar ações de combate ao vírus. O entendimento de Kássio Nunes Marques, no sentido de flexibilizar os decretos de Governadores e Prefeitos, ignora frontalmente tal compromisso. Não é à toa que os demais Ministros pedem-lhe explicações. Nem o Gilmar Mendes, considerado por muitos um sociopata, logrou ser tão insensível.