Não queria me manifestar sobre o controverso Eduardo Bolsonaro, mas, como me incentivaram, vamos lá. Para início de conversa, o Jair e o Malafala (assim mesmo como está grafado) têm razão: o Eduardo é imaturo e babaca. Não há, porém, como ignorar as qualidades do filho 03 do ex-presidente, ou seja, sua resiliência, sua capacidade de articulação e seu amor filial. Com efeito, Eduardo infiltra-se, há anos, em grupos de direita radical, logrando chegar, finalmente, ao capacho de Steve Bannon, um dos principais estrategistas da campanha de Donald Trump, em 2016. O caminho, no entanto, foi árduo e longo, marcado, em 2019, segundo o articulista Breiler Pires do El País, pelo anúncio de Eduardo como “embaixador sul-americano do The Movement (O Movimento), articulação criada por Bannon para unir lideranças ultradireitistas mundiais e encabeçada por Marine Le Pen (França), Matteo Savini (Itália) e Viktor Orbán (Hungria)”.
Sobre Bannon, vale mencionar que foi, misteriosamente, demitido, em 2017, do cargo de assistente do presidente e estrategista-chefe da Casa Branca. Foi preso, em 2020, por fraude financeira, e, em 2022, por não colaborar com a investigação sobre a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. Não se sabe, exatamente, qual a atual relação de Bannon com Trump. No entanto, ícone do populismo de direita, o influenciador, ex-diretor executivo do site ultraconservador Breibart News (base do movimento alt-right ou direita alternativa), continua a dar as cartas em Washington, com pleno acesso a membros do Partido Republicano, ao secretário de estado Marco Rubio e a assessores de Trump. Não há, portanto, sombra de dúvida de que foi através de Bannon que Eduardo teve acesso a parlamentares americanos e à Casa Branca. Convenceu-os, com meias-verdades, a aplicar sanções ao Brasil e aos ministros do STF, a fim de obter a reabilitação política do pai e a anulação do seu julgamento por tentativa de golpe de estado e outros crimes.
Quanto ao amor filial, não se pode ignorar o sacrifício do Eduardo, ao renunciar, praticamente, ao mandato de deputado federal, autoexilando-se nos Estados Unidos, em busca da redenção do progenitor. Contudo, não se encontra em situação de penúria, pois está sendo financiado pelo Jair e ignora-se por quem mais (Valdemar Costa Neto, Malafala, que pagou 12 milhões de dólares por seu jato particular?). Seu altruísmo, ademais, é discutível, uma vez que a continuidade de sua carreira política, seriamente ameaçada, bem como a de seus irmãos e madrasta, depende da influência, declinante, diga-se de passagem, do alfa da grei Bolsonaro. Mas todas as qualidades do Eduardo, acima mencionadas, serão colocadas à prova nesta semana, quando será iniciada a mãe de todos os julgamentos, o primeiro, desde 1889, a responsabilizar militares de alta patente por tentativa de golpe de estado. Será que Trump, marionetado por Eduardo, multiplicará a aposta ou estará muito ocupado, tarifando o planeta, anexando o Canadá e a Groenlândia, mudando o nome do Golfo do México, retomando o Canal do Panamá e invadindo a Venezuela?
Finalmente, convido-os a assistir ao imperdível documentário de Petra Costa (Netflix) Apocalipse nos Trópicos.