Empatia

Uma das mais belas definições que encontrei em dicionários foi a de empatia: colocar-se no lugar do outro, compreender seus sentimentos, necessidades e perspectivas, sem preconceitos ou julgamentos. É compreensível, portanto, que Trump demonstre empatia com Bolsonaro, pois já esteve na situação do ex-presidente, ou seja, valeu-se de todos os meios à sua disposição, a fim de perpetuar-se no poder, desde o não reconhecimento da derrota eleitoral que sofreu à invasão do ícone da democracia americana, no intuito de impedir o congresso de ratificar a vitória de seu oponente.

Tratou-se, no caso do Trump, de uma tentativa de autogolpe, quando o então presidente dos Estados Unidos comandou seus correligionários, à distância, em protesto que degenerou na ominosa invasão do Capitólio e na morte de cinco pessoas. Quanto a Bolsonaro, o ex-presidente, tal qual uma musa, inspirou, desde seu refúgio e álibi em Miami, a depredação das sedes dos três poderes da república, consumada como último recurso para que as forças armadas, diante do descalabro, tomassem o poder e instaurassem um governo de exceção, tendo o capitão à frente.

Diante do recente julgamento e condenação de Bolsonaro, Trump declarou-se surpreso e decepcionado e Marco Rubio, seu secretário de estado, ameaçou novamente o Brasil com medidas de retaliação, na sequência de sanções que vêm sendo patrocinadas por Eduardo Bolsonaro, a fim de, através de intervenção estrangeira, livrar o pai das punições às quais faz jus. Na ocasião, Trump admitiu, ainda, que o Supremo Tribunal Federal estaria fazendo com Bolsonaro o mesmo que a justiça americana desejou, sem êxito, lhe fazer. A declaração soou, aos ouvidos do mundo civilizado, como um atestado da inoperância dos tribunais norte-americanos.

Contudo, a empatia – sentimento raramente cultivado por Trump – não explica totalmente seu vínculo com Bolsonaro. Como saiu incólume de suas peripécias contra o sistema eleitoral norte-americano – diga-se de passagem, um dos mais antidemocráticos do planeta, onde a diplomação do detentor da maioria dos votos depende do conluio de interesses de colégios eleitorais – e da culpabilidade quanto à tomada do Capitólio, o julgamento e a condenação de Bolsonaro por ações correlatas constitui precedente intolerável, que pode ser invocado, tão logo Trump conclua seu segundo e último mandato.

Por outro lado, o americano é um predador que não concede favores gratuitos. Reitero, assim, pergunta anteriormente feita, cuja resposta é guardada a sete chaves, sobre quais seriam os compromissos assumidos por Eduardo Bolsonaro para lograr a intervenção norte-americana em assuntos internos do país, em prol da reabilitação política do pai. De tão absurda, imoral e ilegal, do ponto de vista do direito internacional, a intervenção só pode ter sido obtida, mediante preço altamente compensatório. Trump sabe que o pagamento depende, exclusivamente, da volta de Bolsonaro ao poder.

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