ANTIAMBIENTE

Uma frase do filósofo e teórico da comunicação canadense Marshall McLuhan (1911-1980), publicada no rodapé da coluna da jornalista Circe Cunha (Correio Braziliense), me chamou, particularmente, a atenção. Já havia lido alguns excertos da obra de McLuhan, autor da máxima “o meio é a mensagem” e do termo “aldeia global”, mas não me lembro de ter deparado com a seguinte sentença: “Uma coisa sobre a qual os peixes não sabem absolutamente nada é a água, uma vez que não têm um antiambiente que lhes permita perceber o elemento em que vivem”.
O termo antiambiente se refere, normalmente, ao antiambientalismo, ou seja, o movimento que prioriza o crescimento econômico, a qualquer custo, em detrimento da preservação do meio ambiente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seria o mais recente exemplo de um antiambientalista manifesto, ao declarar recentemente na Assembleia Geral das Nações Unidas que a mudança climática é “a maior trapaça já perpetrada no mundo” e que o ambientalismo é uma “farsa”. Quem quiser que o compre, mas não venha se queixar de furacões, inundações e secas apocalípticas.
Para o filósofo canadense antiambiente tem outro sentido e resultaria de um “novo ambiente” criado pela tecnologia. A internet, por exemplo, cujo aparecimento McLuhan antecipou, em quase 30 anos, ao prever a criação de uma “rede global de comunicação eletrônica” e seu impacto na sociedade, produziria um antiambiente que revelaria a verdadeira natureza do “novo ambiente”. Embora McLuhan seja um teórico da comunicação, suas teses têm sido utilizadas para explicar comportamentos em outras áreas disciplinares, como, por exemplo, na política, onde a polarização ideológica conduziria ao isolamento dos polos em seus respectivos ambientes, opostos como água e fogo, e, na ausência de impulsos renovadores, à inexistência de antiambientes que lhes permitiriam avaliar o meio em que vivem.
O fenômeno é agravado pelo caráter democrático, mas, paradoxalmente, seletivo, da internet, onde os algoritmos promovem o “viés da confirmação”, ou seja, fortalecem o impulso dos usuários das redes sociais a tomar conhecimento somente das postagens que apoiam e justificam suas ideias preconcebidas, em detrimento do contraditório. Ademais, o determinismo dos algoritmos permite que os campos ideologicamente opostos reinem, incontestes, em suas respectivas bolhas, divulgando informações falsas e mensagens de ódio que espelham preconceitos, frustrações e violência. Na ausência de antiambientes, ambos os lados são incapazes de perceber a toxicidade de seus respectivos ambientes.

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