Pouco ou nada adianta Jair Bolsonaro almoçar com caminhoneiros em um posto de combustível em Anápolis, juntamente com o governador de Goiás e o ministro da infraestrutura, a fim de ouvir as múltiplas, desarticuladas e, em sua maioria, justificáveis reivindicações do setor. Tampouco controlar o preço do diesel – o que só acarretou prejuízos à Petrobras e ao país – , revisar a tabela de preços mínimos dos fretes – motivo de questionamentos do combalido setor produtivo – , aumentar para 40 o número de pontos necessário para a perda da carteira de habilitação, estender para 10 anos a validade da referida licença – medidas que só contribuirão para a crescente deterioração do trânsito – , bem como eliminar o exame toxicológico para a obtenção da mesma – indispensável, a meu ver, no caso dos caminhoneiros, para o bem da própria classe – , ou recuperar milhares de quilômetros de estradas sucateadas – dispendiosas, quando concessionadas – pelo Brasil afora.
A crise dos caminhoneiros tem origem no crédito subsidiado que lhes foi concedido durante anos para a aquisição de novos veículos, o que favoreceu, em última análise, a indústria automobilística e transformou inúmeros condutores em inadimplentes. A frota inflada, por sua vez, é responsável pela ociosidade do setor, pois a demanda de frete é insuficiente, tendo em vista, ademais, a prolongada recessão, para a qual contribuem, inclusive, as constantes ameaças de greve dos caminhoneiros. Não obstante, basta trafegar por qualquer rodovia nacional para se defrontar com verdadeiro exército de caminhões que, a exemplo de tanques de guerra, investe contra todos e tudo, a fim de cumprir os prazos de entrega e recarregar o mais rapidamente possível. A solução passa, necessariamente, pelo redimensionamento do setor, a implantação de meios alternativos de locomoção de cargas, reduzindo a perigosa dependência do país no transporte rodoviário, e, finalmente, pela tão almejada e decantada recuperação econômica.