“Ainda é cedo, amor Mal começaste a conhecer a vida Já anuncias a hora de partida” (1)

A respeito da recente pesquisa de intenções de voto da XP/Ipespe para a eleição presidencial de 2022, que não difere muito das demais que foram igualmente divulgadas em dezembro e nas quais Bolsonaro venceria seus adversários no 1º e 2º turnos, chega-se às seguintes conclusões:

– a dois anos do pleito, ainda é cedo para traçar um panorama das preferências nacionais; em 2016, em pleno processo de impeachment de Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro não despontava em nenhuma pesquisa de intenções de voto para a eleição de 2018, disputa que ganhou, no entanto, por larga margem; sabia-se, apenas, que a era do PT estava por se encerrar e que qualquer candidato que se apresentasse em oposição ao petismo tinha chances de ser eleito; a respeito, é importante notar que se detecta, em vários setores, um desgaste do ciclo bolsonarista que poderá ser prematuramente interrompido; é o que se pode chamar de “cenário Trump”, onde o presidente norte-americano escapou do impeachment – o do Bolsonaro está em compasso de espera, tendo em vista sua aprovação de cerca de 38% e o apoio cooptado do Centrão – mas não logrou emplacar um segundo mandato.

– Jair Bolsonaro é o Presidente da República, o dono da máquina governamental, sendo, portanto, o seu nome o mais reconhecível; tanto assim que, na pesquisa espontânea, quando os nomes dos candidatos não são apresentados, lidera com 24% das intenções de voto, contra 6% de Lula, 3% de Ciro, 2% de Haddad e 1% de Moro; 54% não responderam, o que significa que a eleição ainda não faz parte do cotidiano popular, enquanto 7% votariam branco ou nulo.

– Nomes reconhecíveis também têm peso específico na pesquisa induzida, onde Moro aparece em segundo lugar no 2º turno, em páreo apertado com Bolsonaro (36 a 34%). Huck ainda é apenas uma referência de entretenimento, enquanto Haddad detém o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, no 1º e no 2º turnos; Ciro permanece em suas posições históricas; Boulos continua sendo a “zebra” do momento, com 5% de votos no 1º turno, 1 ponto acima de João Doria, e 31% (!!!) no segundo turno, contra 47% de Bolsonaro.

– Jair Bolsonaro tem um comportamento bipolar, falando para, pelo menos, dois públicos distintos; em suas lives, afaga seus apoiadores de raiz, insistindo em seu discurso de campanha, conservador, anticorrupção e contrário à política tradicional; age, no entanto, contra tais preceitos quando lhe convém, como é o caso da promiscuidade encetada com o Centrão; por outro lado, em seus pronunciamentos oficiais, repete o que os demais Poderes e as pessoas sensatas querem escutar; o problema é que, enquanto o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e os que têm juízo já perceberam a estratégia e estão cansados do “morde e assopra”, os seus 30% de seguidores fanáticos, engrossados atualmente pelos agraciados com a ajuda emergencial, continuam a acreditar em suas arengas, a considerá-lo o “mito” e a justificá-lo; alguns analistas consideram que tal fenômeno perdurará até o advento de um novo Messias.

– Jair Bolsonaro que, por 29 anos, integrou o baixo clero da Câmara dos Deputados, é visto por muitos como um típico representante dos grotões, geográficos e culturais – tosco, chauvinista e preconceituoso –, áreas dominadas pelo MDB, partido que, até o presente momento, não apresentou ou apoiou candidato à Presidência da República, e onde o voto evangélico, cultuado por Bolsonaro, é determinante; é natural, portanto, que os eleitores desses segmentos, ao não terem um candidato para chamar de seu, se identifiquem com Bolsonaro.

2021 será um ano crucial para Jair Bolsonaro e, caso a candidatura contrária à de Arthur Lira vença na Câmara dos Deputados, espera-se que o Legislativo contribua para corrigir os rumos erráticos que o Executivo deseja traçar para o país e que coordene uma opção de centro viável para a eleição presidencial de 2022.

(1) O Mundo é um Moinho, Cartola

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *