Os finais das duas primeiras décadas do século XXI não foram favoráveis para o Brasil, o que resultou em mais uma década perdida, a exemplo da de 1981-1990, quando o Plano Cruzado, implementado em 1986 pelo governo de José Sarney (1985-1990) adotou o congelamento de preços, a fim de controlar a hiperinflação que assolava o país. O fracasso do Plano, associado à suspensão do pagamento dos juros da dívida externa, em 1987, quase levou o país à bancarrota. No período, o crescimento do Produto Interno Bruto – PIB foi de irrisório 1,6%. O governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) foi um suspiro, profícuo em promessas e falto em realizações, como, infelizmente, o de Jair Bolsonaro.
A recuperação só foi possível a partir da adoção do Plano Real no governo de Itamar Franco (1992-1995), tendo Fernando Henrique Cardoso, que se elegeu em 1994, como Ministro da Fazenda. O PIB na década de 1991-2000 foi de 2,6% e de 3,7% na década seguinte (2001-2010). O crescimento sustentou-se, portanto, durante os dois mandatos de Fernando Henrique (1995-2003) e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), que surfou nos ganhos do Plano Real, na desvalorização do dólar e no boom dos preços das commodities, sobretudo minérios e petróleo. O final da década de 2001-2010 foi marcado, no entanto, pela crise mundial de 2008, que Lula, valendo-se do mesmo negacionismo utilizado por Bolsonaro com relação à pandemia, considerou uma “marolinha”.
Iniciada nos Estados Unidos, em virtude de desenfreada especulação imobiliária – a denominada bolha especulativa – a crise atingiu o ápice com a quebra do Banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008, conhecida como a “segunda-feira negra”. O golpe, que abalou as estruturas do capitalismo, atingiu o Brasil através do aumento do preço do dólar, da queda das ações, da diminuição do crédito e da redução dos investimentos internacionais. Os fatores que favoreceram o crescimento econômico na década de 2001-2010 foram, portanto, eliminados, mas medidas adotadas pelo governo conseguiram contornar os efeitos negativos da crise e o país ainda cresceu 7,5% em dezembro de 2010 e manteve um desempenho de cerca de 3% ao ano entre 2011 e 2013, em cujo rasto Dilma Rousseff (2011-2016) foi reeleita em 2014.
A má escolha, no entanto, já tinha sido feita em 2011, uma vez que data do início do primeiro mandato de Dilma Rousseff a adoção de medidas heterodoxas e de caráter desenvolvimentista – a “Nova Matriz Econômica” –, responsáveis pela recessão que se instalou a partir de 2014. O PIB foi de 0,5, em 2014, – 3,8%, em 2015, e – 3,6%, em 2016, ano do impeachment da Presidente. Continuou insuficiente nos anos seguintes (respectivamente, 1,3%, 1,8% e 1,1% em 2017, 2018 e 2019), sob os governos de Michel Temer (2016-2019) e de Jair Bolsonaro que se elegeu em 2019 e prometeu em vão um “choque de liberalismo”. Eis a década perdida, encerrada com “chave de ouro” por uma pandemia que o governo resiste a controlar, que ceifa vidas e borrou 2020 do calendário político, econômico e social do país.
Os negacionistas da difícil situação que atravessamos comemoram o crescimento de 7,7% do PIB no terceiro trimestre de 2020, um mero voo de galinha que apenas impediu que o prognóstico de recessão para o ano não ultrapassasse os – 4,4%. Tal resultado, a ser confirmado, acarretará um crescimento do PIB tão irrisório quanto o registrado na década perdida de 1981-1990. Nada, portanto, a comemorar. Conclui-se, assim, que este final de década, marcado por um dos anos mais difíceis na história recente da humanidade, nos traz um ensinamento e uma esperança. A escolha de lideranças políticas esclarecidas e competentes é vital para que os lustros que se seguem não se percam por culpa de governos irresponsáveis que neguem as desigualdades sociais, raciais e de gênero, bem como a necessidade de proporcionar saúde, educação e segurança de qualidade à população, independentemente de ideologias, e de promover a sustentabilidade ambiental.
A próxima chance de recuperação ocorrerá em 2022.