A entrevista que o ministro da infraestrutura concedeu à GloboNews, na quarta-feira, 31, reforçou minha convicção, exposta em rede social e neste blog, de que o governo pouco ou nada pode fazer para solucionar o que passei a denominar a “síndrome dos caminhoneiros”. O problema se resume a conjunção perversa de fatores que tem sua origem em frota inflada por créditos subsidiados, concedidos, durante anos, a motoristas para a aquisição de novos veículos, e a prolongada recessão econômica. Por outro lado, algumas empresas estão desenvolvendo seus próprios meios de transporte de cargas, a fim de escapar da nociva dependência em terceirizados. Simplesmente, não há trabalho, ou seja, fretes para todos.
Controlar o preço do diesel resultou desastroso, enquanto o não pagamento de pedágio por eixos suspensos pode prejudicar o desempenho do veículo. Por outro lado, o ministério da infraestrutura deu um tiro no pé ao tentar revisar a tabela de preços mínimos dos fretes, aberração para um governo que se proclama liberal e defensor da economia de mercado, uma vez que a ociosidade do setor deveria resultar na diminuição do preço do frete e não no seu aumento. Paradoxalmente, os caminhoneiros pedem acréscimo de 30 % e o ministro da infraestrutura foi obrigado a suspender a nova tabela, face à ameaça de greve da categoria. Segundo a imprensa, o ministro chorou na reunião que manteve com os caminhoneiros na quarta-feira, 24, e a solução, como sempre, será a de empurrar a questão com a barriga, até nova ameaça de greve.
Preocupante, no entanto, é a tentativa do governo de agradar os caminhoneiros, editando medidas que afetam a segurança da classe e de toda a sociedade, tais como o aumento de 20 para 40 do número de pontos necessários para a perda da carteira de habilitação, cuja validade seria estendida de 5 para 10 anos. Equivale a incentivar motoristas a cometerem, tranquilamente, o dobro de infrações às leis de trânsito, assim como fazer vista grossa às deteriorações físicas, visuais ou mentais que venham a sofrer ao longo de uma década. É permitir que diabéticos multipliquem por dois o número de bombons que ingerem contra as recomendações médicas e a portadores de hiperplasia prostática a realizarem exames a cada dois anos, ao invés de anualmente. No mínimo, irresponsável.