As grandes revoluções têm em comum o fato de que, ao eclodirem, os beligerantes ainda não se articularam internamente. Torna-se, assim, difícil para ambas as partes distinguir entre os oponentes o inimigo primordial. Ganha aquela que se estruturar primeiro e reconhecer o principal alvo antes da outra. Os melhores exemplos do que acabo de afirmar são as revoluções russa de 1917 que, por sinal, não se iniciou com o movimento marxista, mas com a deposição do czar por forças democráticas, e a espanhola de 1936.
A classe dominante russa, por exemplo, compreendia proprietários rurais e a incipiente burguesia industrial, cujos interesses eram divergentes, bem como a nobreza que se opôs a Rasputin, assassinado por membros da corte de Nicolau II. As hostes revolucionárias, por sua vez, dividiam-se em servos rurais, trabalhadores urbanos, militares (os marinheiros do Potenkim, e.g.), o governo provisório (Duma) e, finalmente, os Bolcheviques que, sob a liderança de Lenin, unificaram os contendores, ocuparam o poder e instalaram um regime comunista e totalitário.
Não estamos, no Brasil, em meio a uma revolução, mas não podemos negar que metade da população do país votou, nas últimas eleições, em facções antagônicas e irreconciliáveis. Ademais, as representações políticas de tais grupos encontram-se, à direita e à esquerda, desestruturadas e sem líderes capazes de conduzi-las. A exemplo do que ocorreu recentemente na Argentina, a desarticulação de um grupo pode induzir a articulação do outro. Nesse contexto, não tenho dúvida de que as eleições de 2022 serão faturadas pelo partido que, antes dos demais, lograr coesão interna, sob a égide de um líder articulado, a exemplo do PT em 2002, e cooptar o apoio do amorfo denominado centrão.