Muito tem sido dito, difamatoriamente ou não, a respeito do Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde, o etíope de 55 anos Tedros Adhanom Ghebreyesus. Em resumo, que foi figura proeminente em governo ditatorial e sanguinário de seu país, que escondeu do mundo uma epidemia que grassava na Etiópia e que foi eleito para o cargo por ingerência da China. Em minhas andanças pelo mundo, não tive o prazer de ser apresentado ao Dr. Tedros. Poderia ter sido, uma vez que meu nome foi cogitado para implantar a Embaixada do Brasil em Adis Abeba. A honra foi concedida a meu querido amigo e colega Renato Xavier, que por lá comeu o pão que o diabo amassou, enquanto o substituí em Santiago. Creio que saí ganhando.
O que esquecem de dizer é que o homem graduou-se em biologia e doutorou-se em saúde comunitária pelas universidades de Asmara (Eritreia) e Nottingham (Grã-Bretanha) e é pesquisador, mundialmente reconhecido, de malária. Como ministro da saúde da Etiópia, promoveu reformas importantes que melhoraram o acesso aos serviços de saúde, contratou e treinou mão de obra especializada, nada fácil no continente, e reduziu a mortalidade infantil de 123 por 1000 nascidos vivos, em 2006, para 88, em 2011, o que, em países africanos, é uma proeza. Em 2009, foi eleito presidente do Conselho Global de Combate à AIDS/SIDA, Tuberculose e Malária e, em 2017, diretor-geral da OMS pela ASSEMBLEIA MUNDIAL DA SAÚDE, com a participação do Brasil.
Utilizam, outrossim, a suposta biografia negativa o Dr. Tedros para acusar o nosso Ministério da Saúde de acatar as orientações da Organização Mundial da Saúde que está sob sua direção, como se o vil e maligno personagem fosse quem ditasse, manu militare, tais orientações no intuito de exterminar a economia mundial e, em particular, a brasileira. Ora, Mandetta nada mais faz do que seguir o exemplo dos principais líderes do planeta. Ou deveríamos seguir as orientações de Trump, cujo país transformou-se no epicentro da pandemia e cujo comportamento ainda assim é menos errático do que o do Bolsonaro? Esquecem-se que o Diretor-Geral está cercado por cientistas internacionais de escol, cada qual em sua especialidade, assim como o Presidente de República, que não entende necas de pitibiriba de economia e muito menos de saúde, por assessores competentes e responsáveis como Paulo Guedes e Luiz Henrique Mandetta.
Contudo, a onda difamatória arrefeceu milagrosamente desde ontem, quando o Dr. Tedros, sem voltar atrás na recomendação da OMS quanto ao isolamento social, admitiu a existência de trabalhadores que, sim, necessitam ir às ruas a fim de sustentar suas famílias, como se a constatação fosse uma grande novidade. De repente, o Diretor-Geral transformou-se na estrela guia do Presidente da República que se vale dos mais ínfimos detalhes para justificar suas atitudes. Infelizmente, a matéria se transformou hoje em mais um motivo de conflito entre Bolsonaro e a imprensa, durante o indigno convescote que se realiza diariamente, à sombra da mangueira, na saída ou entrada, sei lá, do Palácio da Alvorada. Apupada pela agressiva claque presente, incentivada pelo Presidente, a imprensa foi obrigada a recuar do seu curralzinho. Sinceramente, não entendo por que os jornais teimam em cobrir tais eventos que só servem para fomentar mais crises no país.
Quanto ao Dr. Tedros, lamento, mas, gostem ou não, é o que temos, no momento, em matéria de autoridade mundial de saúde.