Tenho muitos amigos entre os bolsominions de carteirinha, alguns dos quais me convenceram, monarquista empedernido, a votar em Bolsonaro nos dois turnos das eleições de 2018. Votei conscientemente e não me arrependo, pois, embora o candidato nunca tenha me enganado quanto à sua caipirice, nenhum legítimo Orléans e Bragança estava no páreo e acreditava e continuo acreditando que o país necessitava de um solavanco antipetista para retornar, em seguida, ao leito da normalidade onde não fluem, evidentemente, “bolsonaromitos” e “lulalivres”.
Costumo ouvir educada e pacientemente as estultícias que os bolsominions do meu coração têm a dizer. Em primeiro lugar, são amizades de longa data que não estou disposto a descartar por um Mazzaropi qualquer. Bolsonaro passará e os amigos permanecerão. Depois, neste momento de contração social induzida pelo coronavírus, suas teorias da conspiração, mais do que nunca, me divertem e sinto-me lisonjeado pelo fato de que continuam a me contatar, apesar de me considerarem “isentão”, e se esmerem em me fazer a cabeça. Mas, a overdose deste fim de semana foi demasiada.
Uma querida amiga, empresária das mais bem- sucedidas, ligou-me no sábado para justificar-se por não ter a intenção de comparecer às manifestações pró-bolsonaro programadas para domingo. Confidenciou-me que, na verdade, os eventos haviam sido engendrados pela esquerda, a fim de, em tempos de coronavírus, juntar o máximo possível de bolsominions e contaminá-los. Prova da veracidade do plano diabólico era a ausência nos protestos do Movimento Brasil Livre (MBL) e do Vem Pra Rua que sempre apoiaram Bolsonaro. Se distanciavam agora, cientes da vil armadilha petista.
Hoje, um velho amigo telefonou-me e em quase uma hora de papo, no qual desancamos a imprensa e, em particular, a Rede Globo, afiançou-me que a Eliane Catanhêde é comunista. Não conheço a jornalista pessoalmente e por ela não nutro qualquer admiração especial. Articulada e bem posicionada num ambiente machista, bate forte nos colegas, em especial no Jorge Pontual e no Guga Chacra (dizem que os inveja por estarem em Nova York e ela em Brasília). É uma mulher elegante, bem cuidada, nem um fio de cabelo fora do penteado laqueado, vestidos bem cortados e variadas jóias verdadeiras.
A fim de evidenciar o status da família, Catanhêde apela para o lado pessoal, com constantes alusões ao seu passado de sinhazinha, neta de usineiro maranhense, ao marido, filhos, netos e, recentemente, a uma sobrinha, cujo paradeiro, em Pais, fez questão de divulgar. Apesar de criticar os desmandos do Bolsonaro, à maneira de “o rei está nu”, e eventualmente os do Olavo de Carvalho, ao qual se refere pejorativamente, sua produção jornalística (Estadão e Globo News) não evidencia qualquer inclinação à esquerda do espectro político. Se a mulher é comunista, Putin é um baluarte da democracia.
Durma-se com tais barulhos!