Fixações diferentes, processos mentais idênticos

Fixações diferentes, processos mentais idênticos

Assim como me fascinam os processos mentais dos que até hoje defendem Lula, apesar dos pesares, tenho procurado entender os malabarismos cerebrais dos que transformaram Bolsonaro em mito. Uma breve enquete nas redes sociais e alguns telefonemas, concluo, por exemplo, que a recente temporada de promiscuidade política entre Bolsonaro e o centrão é justificada pelos bolsonaristas como manobra necessária à obtenção de governabilidade e à sua sobrevivência, caso os “inimigos do povo” (leia-se Celso de Mello e Rodrigo Maia) decidam promover seu impedimento. No alvo! Mourão garante, inclusive, que Bolsonaro extrairá de Bob Jefferson e Kassab o melhor que ambos têm! Só que a questão não é esta, mas a que remete a certas promessas de campanha nas quais acreditamos. 

Argumentam, ademais, que o expediente foi utilizado por Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer em proporções muito maiores e prejudiciais ao país. Trata-se, obviamente, de lógica perversa que, em última análise, permitiria a Bolsonaro roubar, desde que fosse pouquinho, uma vez que seus antecessores o fizeram em escalas desproporcionais. Imploram, ainda, que se dê tempo ao tempo, pois os resultados obtidos nos poucos meses transcorridos do mandato de Bolsonaro são insuficientes para criticá-lo. Solicitam, pois, que se lhe dê carta branca para que ele faça o que queira durante quatro anos, enquanto nos sentamos e o admiramos, para só então avaliar o seu governo. 

Dito isto, estou convencido que está em curso um processo patológico cujo diagnóstico, por não ser profissional da área da saúde mental, não estou capacitado a emitir. O interessante é que, para os bolsonaristas, os doentes são aqueles que não abrem mão de raciocinar e produzir análises coerentes da situação, aliás sintoma típico da comorbidade: o louco é você! Uma senhora, após tomar conhecimento de uma das minhas publicações, chegou até a me oferecer medicamentos, a fim de que me curasse da enfermidade de expor meus pontos de vista. Perguntei-lhe se se tratava de alguma droga que ela provavelmente estaria consumindo, motivo do seu “barato”.

Publicado em 10/05/2020

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