Índio não tem fronteira

Se há algo que aprendi nos 4 anos que vivi na Guiana, entre garimpeiros, yanomamis, wapichanas e makuxis, é que índio não tem fronteira. Locomovem-se livremente por terras que outrora lhes pertenciam e ignoram postos fiscais, marcos e aduanas.

Os waiãpis ou oiampis não constituem exceção. Trata-se de tribo indígena da família linguística tupi-guarani que se estende por cerca de 90 aldeamentos a oeste do estado do Amapá, nos municípios de Pedra Branca do Amapari, Laranjal do Jari e Mazagão, em região delimitada pelos rios Oiapoque, Jari e Araguari, nas fronteiras, portanto, com a Guiana Francesa e o Suriname, onde, certamente, têm comunidades. São pacíficos e mantêm contato com outros povos desde o século XVIII.

A reserva Waiãpi que foi invadida por garimpeiros e cujo líder teria sido assassinado situa-se em Pedra Branca do Amapari, cuja população cresceu, entre 2000 e 2010, quase 170% em virtude do garimpo. Curiosamente, o município foi fundado pelos saramakas, quilombolas ou ex-escravos africanos que escaparam das plantações de cana da ex-Guiana Holandesa.

Os saramakas, que hoje também se estendem pelo Amapá, Guiana Francesa e Suriname, são velhos conhecidos da Corte Internacional de Direitos Humanos que, em 2007, deu-lhes ganho de causa contra o governo de Paramaribo que foi obrigado a indenizá-los por concessões a empresas estrangeiras para explorarem recursos minerais em suas terras.

Nesse contexto, o risco da questão dos waiãpis internacionalizar-se é considerável, razão pela qual espera-se que o Itamaraty, juntamente com o exército, o ministério público e a polícia federal, atue. Governos e ativistas europeus, sobretudo franceses, questionam o Brasil em matéria de proteção ao meio ambiente e aos direitos humanos e podem dificultar a implementação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. A invasão da reserva waiãpi é um prato cheio.

 

 

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