“Name-dropping”
Tendo em vista publicações que tenho tido a paciência de ler em redes sociais, cumpre esclarecer que existe uma prática, normalmente utilizada por pessoas de baixa autoestima ou em busca de autoafirmação, que os anglófonos denominam “name dropping”. Livremente traduzida, a expressão significa “deixar nomes cair”. Trata-se, singelamente, de se gabar por conhecer pessoas importantes. Os que a praticam “deixam cair”, durante uma conversação ou ao produzirem um texto, nomes de famosos com os quais alegam ter, verdadeira ou falsamente, convivido ou mantido relações íntimas de amizade.
O recurso, que, em alguns casos, pode ser considerado falta de ética profissional, visa a 1) impor o arbítrio de quem o invoca, valendo-se do de outrem, o que, nas teorias sobre o autoritarismo, se denomina “falácia da falsa autoridade”; 2) angariar “kudos” (do grego “kûdos”), ou seja, elogios, renome ou reconhecimento, às custas de outrem; 3) posicionar o “name-dropper” em uma hierarquia social à qual normalmente não pertence, conferindo-lhe status, e 4) validar argumentos, opiniões ou pontos de vista que, em geral, não se sustentam por si sós. Nesse último contexto, é necessário ressalvar a citação de autores ou pesquisadores em textos, sobretudo acadêmicos, a fim de esclarecer, ilustrar ou reforçar determinadas teses.
A prática assume um caráter irresponsável e covarde quando se trata de alardear amizade com ou fazer acusações a pessoas famosas já falecidas. Torna-se, no caso, difícil ou impossível averiguar a veracidade das alegações. Evidentemente, é necessário excetuar, uma vez mais, depoimentos, por exemplo, de Zélia Gatay, a respeito de Jorge Amado, ou de Yoko Ono, a respeito de John Lennon, tendo em vista o papel que representaram na vida de tais celebridades. Às vezes, no entanto, a mentira tem pernas curtas, quando alguém proclama intimidade com pessoas que, por acaso, eram efetivamente amigos seus. Já me ocorreu, mas não vou praticar “name dropping”, citando os protagonistas. A situação me resultou hilária.
Por outro lado, o “name-dropper” corre sérios riscos ao “deixar cair” o nome de certas personagens, uma vez que nem Jesus Cristo ou Madre Tereza de Calcutá lograram unanimidade na avaliação da opinião pública. Atualmente, se expõe desnecessariamente quem declara que é íntimo amigo do ex-presidente Lula (estão qase todos presos) ou de Jair Bolsonaro, líderes de rejeição nas pesquisas eleitorais e, ao mesmo tempo, semideuses de número considerável de seguidores e fiéis. Finalmente, por se tratar de um expediente quase infantil (equivale a uma criança responsabilizar o amiguinho por travessura de sua autoria), detectável por qualquer pessoa com um mínimo de discernimento, a reprimenda mais adequada a quem o utiliza seria: “Que feio! Muito feio! Ai, ai ai!”.
Ney do Prado Dieguez