Ao avaliar o desempenho de dirigentes nomeados por Bolsonaro para o comando de setores que deseja reestruturar (“Capitães do Mato”), afirmei que Ernesto de Araújo e Damares Alves eram capítulos à parte. O capítulo referente ao Chanceler já foi escrito (“Diplomacia Presidencial às Avessas”). Damares Alves merece, no entanto, um volumoso romance, tendo em vista a complexidade da personagem e a importância da responsabilidade que lhe foi entregue: Mulher, Família e Direitos Humanos.
Mata-se, no Brasil, uma mulher a cada 7 horas (aumento de 7,3%, em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, do número de feminicídios em comparação com 2018); o conceito tradicional de família – pai, mãe e filhos – passa, mundialmente, por transformações que desafiam governos e sociedades; finalmente, o país, egresso de uma ditadura militar há apenas 35 anos, nunca foi um campeão dos Direitos Humanos. Dito isto, basta uma simples consulta ao currículo de Damares Alves e às suas polêmicas atuações e declarações para se chegar à conclusão de que a Pastora, que procura um marido no aplicativo “Tinder”, não está à altura de enfrentar tais reptos.
Apenas para relembrar alguns lances da sua trajetória, declarou-se “Mestre em Educação” e “em Direito Constitucional e Direito da Família”, títulos que não ostenta; encontrou-se com Jesus Cristo nos galhos de uma goiabeira, ao tentar suicidar-se por ter sido abusada sexualmente; ao combater a ideologia de gênero, pontificou que “menino veste azul e menina veste rosa”; jamais formalizou a adoção da indígena Kajutiti Lulu Kamayurá, retirada irregularmente, segundo seus parentes, da tribo, aos 6 anos de idade; defendeu que a Igreja Evangélica “perdeu espaço” ao deixar que a Teoria da Evolução entrasse nas escolas, sem questioná-la; afirmou que os holandeses aprendem a “massagear sexualmente suas crianças”, destaque na imprensa neerlandesa; denunciou que muitos hotéis-fazenda são utilizados para “turista ir transar com animais”; atribuiu o estupro de meninas na Ilha de Marajó ao fato de não usarem calcinha. Outros indícios dos transtornos de personalidade que a acometem são proximamente aguardados.
Por outro lado, um dos objetivos basilares do Ministério comandado por Damares Alves é a formulação e implementação de políticas que garantam os direitos das minorias. Ocorre que, atualmente, as minorias mais afetadas no Brasil são os indígenas, os homossexuais e os adeptos de religiões de matriz africana, cujas prerrogativas vêm sendo cada vez mais desrespeitadas. Mulheres e negros, por mais prejudicados que sejam nesta sociedade estruturalmente machista e racista, são maiorias, representando, respectivamente, 51,1% e 56,1% da população. Não se tem notícia da empatia da Ministra por qualquer dos grupos minoritários acima mencionados.
Damares Alves está cotada para compor a chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.