No final do primeiro turno, diante do desempenho pífio da candidatura de Geraldo Alckmin, os “cabeças pretas” do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), jovens dissidentes que se opõem aos “cabeças brancas” ou tucanos emplumados, diziam, para quem quisesse ouvir, que o problema havia sido a escolha do candidato, uma espécie de “Tereza Batista Cansada de Guerra”, que derrapou na pista e não decolou.
Coincidentemente, um grupo de candidatos petistas que lograram eleger-se e contribuíram para a formação da maior bancada partidária (até agora) da Câmara dos Deputados (56 parlamentares), começa a trilhar o mesmo caminho. Avaliam que a unção do candidato do PT foi um equívoco. Não se referem ao Haddad, mas a Lula, cujo processo de desincorporação, pautado por Gleisi Hoffmann, foi longo, doloroso, improdutivo e atrasou o início da campanha. Estão conscientes, ademais, do corpo a corpo que terão de travar com um PSL, partido do Bolsonaro, inflado (52 parlamentares), cujas possibilidades de crescer são reais.
Consideram que a opção por um nome descolado do carma lulo-dilmista, teria mais condições de romper a intransponível rejeição que o Lula angariou e que ultrapassou a do candidato Jair Bolsonaro, o ex-líder dos patinhos feios na corrida ao Palácio do Planalto. Admitem, ademais, a reprovação do eleitorado ao e a falta de apelo do programa do partido, elaborado pelo próprio Lula, pelo Dirceu ou por Deus sabe quem!
Com efeito, J.R. Guzzo, em sua coluna “Uma Ditadura” (refere-se à que o PT implantaria), menciona controverso tripé do dito programa, que Haddad, segundo os próprios petistas descontentes alegam, foi obrigado a engolir: “controle social na administração da justiça”, “controle social dos meios de comunicação” e a convocação de uma “Assembleia Constituinte”.
Não pretendo estender-me sobre as consequências das propostas, caso sejam implementadas, ou tentar explicar as mesmas, uma vez que estão claramente delineadas no programa do partido. Ou não, uma vez que, na terceira edição do documento, a “Assembleia Constituinte”, por exemplo, foi devidamente malocada, diante da batida de pé do Haddad. Enfim, é fato inconteste que mudanças programáticas de última hora, ao sabor do gosto do freguês, causam insegurança e desconfiança.
Não resta a menor dúvida de que a indefinição das propostas petistas é responsável pelo fato de que, segundo a última pesquisa Datafolha, Bolsonaro ostenta 53%, contra 30% de Haddad, no quesito “Mais sincero?”, enquanto Haddad amarga 48%, contra 33% de Bolsonaro, no quesito “O que faz mais promessas que não poderá cumprir?”. Está no ar um certo aroma, já identificado em campanha anterior, de estelionato eleitoral.