Enquanto o PSDB e o PT monopolizaram as preferências populares e disputaram, pau a pau, seis eleições presidenciais, de 1994 a 2014 (alguns saudosistas acreditam que a atual eleição é um replay do mesmo esquema), pretendendo nada mais do que a alternância no poder, o sistema político instaurado pela Constituição de 1988, denominado “redemocratização”, foi mantido sem maiores percalços, até o advento da Lava Jato e do Petrolão.
A disputa bipolar entre os dois partidos difundiu a noção equivocada de que eram oponentes, quando, na realidade, não passam de meros concorrentes. Ambos se dedicaram a operar esquemas de corrupção que só não foram quantitativamente equivalentes porque o PT estava com as chaves do cofre nas mãos, enquanto o PSDB esperava a oportunidade de conquistá-las.
Pois bem, eis que surge, de nada, alimentada simplesmente pela indignação de cidadãos inconformados com o “sistema”, uma terceira força que ameaça a continuidade dos diagramas de corrupção, desenhados pela turma de Curitiba, do fisiologismo e do presidencialismo de cooptação, marcas registradas da denominada “redemocratização”.
Ora, é natural que o “sistema” reaja, que os partidos que o representam empenhem suas forças, a fim de sobreviver, manter os currais eleitorais, os privilégios e o “modus operandi”. O embate não será fácil, diante, sobretudo, da incapacidade de parte do eleitorado de apreender o que realmente está em jogo.
Não se trata mais da manutenção e ampliação de direitos trabalhistas, da defesa do direito das mulheres ou das minorias, pelos quais ambos os partidos fizeram quase nada nestes 22 anos de governos sucessivos, senão tais reivindicações já teriam sido atendidas. Trata-se da recuperação da democracia, da cidadania, da dignidade e da vergonha na cara. As conquistas acima mencionadas, de suma importância, serão meros corolários da reconquista do país.