A antiglobalização é um movimento identificado com a esquerda, nascido na década de 1990, contra o capitalismo liberal (predatório, segundo os antiglobalistas) que resultaria da integração política, econômica, social e cultural da ” aldeia global”, termo cunhado pelo filósofo canadense Herbert McLuhan para indicar a inevitável interligação tecnológica do planeta. Opôs-se ao NAFTA e à ALCA, que logrou derrotar. A antiglobalização combate, ainda, a diplomacia multilateral, ou seja, aquela praticada em organismos internacionais. Seus adeptos são responsáveis pelas manifestações hostis que ocorrem comumente às portas de reuniões como a recente do G7, em Biarritz.
Obviamente, os governos do Partido dos Trabalhadores foram simpáticos ao movimento e, se, por um lado, mantiveram em banho-maria a participação do Brasil nos inevitáveis organismos regionais, como a OEA e o MERCOSUL, por outro, só favoreceram a criação de organizações de esquerda, como o Foro de São Paulo e a UNASUL, então constituída por maioria de países com governos esquerdistas. Contribuíram, ademais, sem justificativas aparentes, para a desativação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica que reúne, desde 1995 (governo Fernando Henrique), oito países amazônicos, com sede em Brasília.
O governo Bolsonaro, por sua vez, parece não ter, até o presente momento, uma definição quanto ao seu apoio à globalização ou à sua antítese. Testado, inicialmente, no Fórum Econômico Mundial de Davos, o discurso presidencial, centrado em promessas eleitorais de combate a mazelas internas, foi aquém do que a comunidade econômica internacional esperava. Por outro lado, em sua última aparição no MERCOSUL, Bolsonaro hostilizou o eventual futuro governo da Argentina, causando mal-estar até no atual detentor do poder, Mauricio Macri. Nota-se, nitidamente, a ausência de assessoria competente em matéria de política externa.
O problema da antiglobalização é a orfandade dos países que a adotam, quando necessitam de apoio internacional. Na crise das queimadas amazônicas, o presidente francês, que a gerou, contou com a União Europeia e o G7, que anunciará, em setembro, na ONU, onde a França é membro permanente do Conselho de Segurança, projeto de reflorestamento da Amazônia, iniciativa de Macron. Entrementes, queixar-se ao Papa, que, ademais, me parece peronista, não é uma alternativa para o Brasil. Bolsonaro, segundo o próprio, passou, assim, um fim de semana contatando chefes de estado, a fim de angariar apoio, enquanto o correto teria sido convocar tempestivamente reunião da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica.
O mandatário brasileiro parece ignorar, ademais, a existência da Organização ao relatar conversa que manteve com Iván Duque, presidente da Colômbia: “Falamos da necessidade de termos um plano conjunto, entre a maioria dos países que integram a Amazônia – por que não entre todos? – na garantia de nossa soberania e riquezas naturais”. Trata-se de tentativa de reinventar a roda. Não sei onde se situa, em Brasília, a sede física da OTCA, mas é possível que esteja a poucos quilômetros do Palácio da Alvorada. Valeria a pena, inclusive, investigar as razões pelas quais o organismo, imprescindível, a meu ver, para a preservação, a ocupação sustentável e o desenvolvimento da Amazônia, foi relegado à extinção. As ONGs querem que os governos as deixem em paz?