Pré e Pós-eleições

As situações pré e pós-eleições de 2002 e de 2018, apesar de terem produzido resultados ideologicamente opostos, comportam nítidos pontos de convergência. Em 2002, foi eleito e tomou posse representante do que se julgava ser a extrema-esquerda radical. Demonstrou ser apenas um social-democrata, adepto a práticas antiéticas e antirrepublicanas, que deu continuidade à política econômica do governo anterior.   Em 2018, venceu as eleições candidato identificado pelos opositores como da extrema-direita conservadora.  Afinal, nada mais será do que um liberal, com propósitos moralizantes, alinhado à economia de mercado.

Com efeito, a fim de garantir a vitória nas eleições de 2002, Lula, candidato do Partido dos Trabalhadores, foi coagido a emitir uma “Carta aos Brasileiros”, na qual se comprometeu a respeitar o nosso esdrúxulo capitalismo.  Por sugestão de José Dirceu, acolheu, ainda, em sua chapa, o empresário José Alencar que se filiou ao Partido Liberal, a fim de concorrer à vice-presidência. As iniciativas desagradaram tanto a extrema-esquerda quanto os liberais. Contudo, a maquiagem do PT foi suficiente para eleger Lula, apesar de que, de janeiro a outubro de 2002, a Bolsa de Valores despencou 31,8 %, enquanto o dólar valorizou-se em 56,24%, atingindo a cotação de R$ 3,99, em 27 de setembro.

Do outro lado da trincheira, avistava-se José Serra, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira, desacreditado, após o desastroso segundo mandato de seu líder mor, Fernando Henrique. Considerado equivocadamente de direita, o PSDB, que, como sua própria denominação indica, é de centro-esquerda, protegeu seu candidato, egresso, na realidade, da esquerda radical, com uma falsa carapaça direitista.  De fato, Serra foi fundador da Ação Popular e da União Nacional dos Estudantes, exilou-se no Chile, em 1964, e, após o golpe militar de Allende, em 1973, nos Estados Unidos.  Retornou ao Brasil em 1978 e, dez anos depois, foi um dos fundadores do PSDB.

Como agora, os eleitores preferiram apostar no novo (não confundir com o Parido Novo) e escolheram Lula, catapultado, ademais, pelos infortúnios do PSDB e pelo apoio camuflado de FHC.

Bolsonaro, por sua vez, não foi obrigado e redigir missiva alguma.  Seu DNA político e sua campanha, a mais revolucionária da história da democracia brasileira, não representaram risco à economia.  Ao contrário, tenderam a fortalecê-la.  Apenas em outubro, o Ibovespa acumulou alta de 6%, enquanto o dólar recuou a R$ 3,5930.  Em um movimento aparentemente paradoxal, no dia posterior à sua vitória, a bolsa fechou em baixa de 2,24% e o dólar fechou a 3,7060. Os arautos do caos precipitaram-se em anunciar o fenômeno, logo esclarecido como, no caso da Bolsa, “um processo de realização de lucros” e, no que diz respeito à moeda norte-americana, “o mercado já havia precificado o dólar a R$ 3,70”.  De fato, em 30/10, a Ibovespa encerrou em alta de 3,69%, a 86.885 pontos, e o dólar manteve-se no patamar previsto.

No bunker petista, Fernando Haddad, o ectoplasma de Lula que se esvaeceu tardiamente, liberando a personalidade do médium, não foi conclamado a firmar uma declaração de amor ao capitalismo. O mercado, com poucas recaídas pessimistas, apostou na sua derrota e, caso ganhasse, esperava-se uma emulação canhestra dos três governos anteriores do PT.  Mas, o que realmente congelava o sangue nas veias era uma moçoila que perlimpimpava em torno do candidato, membra ativa do partido comunista, candidata à vice-presidência, mais indômita do que o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, por ser jovem, arrebatada e incontrolável.

Em plena campanha, considerando-se já eleita, Manuela d’Ávila viajou a Buenos Aires, onde seu interlocutor se encontrava, a fim de convidar José Mujica, o Pepe, ex-presidente do Uruguai, para presidir a URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina).  A candidata demonstrava, enfim, que não pretendia ser meramente decorativa, enquanto seu anacrônico partido, quase ausente do novo Congresso, acalentava a presunção de assumir as rédeas da política externa do país, via vice-presidência. Nem o nosso José Mojica, o Zé do Caixão, poderia compor um roteiro cinematográfico mais aterrorizante!

Como em 2002, o eleitorado optou pelo inédito, o racional e elegeu Jair Bolsonaro.

Quanto ao atual clima pós-leitoral, assemelha-se ao de 2002.  As vivandeiras de sempre, agora as de esquerda, pregam o apocalipse, reforçadas por discutíveis defensores dos direitos civis das mulheres, das minorias e dos malfeitores.  Acreditam que bandidos armados com metralhadoras de última geração, com mira laser, não representam ameaça aos cidadãos, sobretudo se estão de costas (apud a jornalista Maria Beltrão), e devem ser respeitados como o pároco, o pastor, o rabino e o babalorixá do seu templo.

Finados.  Homenageiem seus mortos.  Na minha idade, já estou impaciente para reencontrar os meus.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *