Nenhuma democracia prescinde de uma esquerda atuante. Ela pode ser intelectualizada – acadêmicos, filósofos, jornalistas etc, que, teoricamente, ajudam a manter a diversidade ideológica e o debate salutar das ideias, embora, na prática, não permitam, nas universidades públicas e em determinadas mídias, quaisquer opiniões contrárias às suas; distributiva, quando efetivamente presta assistência aos mais necessitados, apesar de o fazer às custas da saúde, da educação e da segurança de todos, partilhando igualitariamente a miséria, como dizia Winston Churchill, exceto entre seus líderes; nociva, quando cria esquemas de corrupção, enriquece a nomenclatura partidária e estratosfera (novo verbo!) o déficit público; criadora de casos, castas e cotas – as mulheres, os homossexuais, os negros, os índios, os quilombolas, os sem terra, os sem teto etc, utilizando-as como massa de manobra, sem solucionar suas necessidades básicas (respeito e reconhecimento), uma vez que suas reivindicações, após anos de governos esquerdistas, continuam inatendidas; divertida, quando convida Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, para presidir a onírica União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL) e o partido comunista, sua ramificação mais radical, pretendia traçar a política externa do Brasil, via uma cobiçada vice-presidência. Creio inócuo mencionar outros valiosos atributos!
Na verdade, as ditaduras de esquerda subsistem sem a direita – aliás, a reprimem – mas uma verdadeira democracia não merece ser assim rotulada sem a esquerda, a direita e o sempre misterioso e movediço centro. Aliás, eliminar o espectro político à sinistra – nenhuma conotação pejorativa – conduziria o país obviamente a uma ditadura de direita. Por outro lado, é preciso reconhecer que a esquerda proporciona aos governos um precioso acervo de diretrizes – a exemplo das que foram legadas pela ex-presidente Dilma Rousseff – a serem adotadas, bem como a possibilidade de refletir sobre as mesmas e, de repente, não adotá-las, favorecendo o crescimento econômico, o combate ao desemprego, uma governabilidade ética etc. Enfim, é necessário proteger a esquerda, respeitá-la, garantir sua liberdade de expressão, sua autoconfiança e sua autoestima, tão abalada, no momento. É o preço da democracia. Trata-se, afinal, de um interlocutor válido, cuja ausência colocaria o governo na incômoda posição de não contar com postes e paredes para dialogar.