Triste País, Cuja Segunda Opção era o Haddad

Bolsonaro é um interiorano que enxergou no exército, como muitos outros brasileiros, a oportunidade de ascender social e financeiramente.  Esta sempre foi uma virtude das carreiras militares, ou seja, oferecer oportunidades a quem, embora esforçado, não as têm.   É jeca, para utilizar o termo criado por seu conterrâneo, Monteiro Lobato, que conhecia como ninguém os grotões de São Paulo.  É grosseiro e criador de caso, o que lhe custou a carreira militar, mas habilitou-o para a política.  A infame e criminosa facada que recebeu durante a campanha eleitoral o afastou, infelizmente, dos debates com os demais candidatos, o que impediu a nação de conhecê-lo melhor.

O problema das instituições cujo objetivo é forjar caráter, como as academias militares e o Instituto Rio Branco, é que podem criar caricaturas do que almejam.  Na carreira militar, são aqueles que coçam os testículos e intercalam uma certa sílaba da língua do P no discurso, enquanto que, entre o diplomatas, são os que colocam  “punhos de renda”.  É necessário muita personalidade para resistir aos moldes.  Nesse aspecto, Bolsonaro equivale a João Figueiredo, com a diferença de que o cavaleiro, que preferia o odor das cavalariças ao do povo,  completou em primeiro lugar o Colégio Militar de Porto Alegre, a Escola Militar do Realengo e cum laude todos os cursos superiores, verdadeiros doutorados, que conduzem ao generalato e aplainam a casca grossa de quem a ostenta.

O que o presidente Bolsonaro ainda não entendeu é que não necessita mais cooptar os 30%, correspondentes a seus eleitores de raiz, dos 58 milhões que nele votaram.  Como os “Lulalivre”, são notas promissórias descontadas e, não importa o que diga ou faça, o pavor de um retorno do PT os congelou politicamente. Abdicaram da prerrogativa de analisar e opinar. O problema é manter os 70% do seu eleitorado que esperava algo melhor do seu governo,  que segue em frente, aos trancos e barrancos, apesar do próprio Bolsonaro.  É sintomático verificar como seu próprio  partido político, jornalistas e internautas abandonam o barco, enquanto a aprovação do presidente desaba ao mais baixo nível em comparação à de todos os presidentes anteriores, após apenas um ano  de governo.

Quanto aos ministros de Bolsonaro, vivem com a corda no pescoço, sujeitos a frituras e demissões ad nutum, esforçando-se para apagar os incêndios que o presidente ateia em suas respectivas áreas.  Mesmo os mais populares e competentes buscam reverter  a falta de apoio ao chefe, bem como a suas controversas iniciativas, ou relativizar sua verborragia.  É o caso do Moro, mendigando confiança no presidente, enquanto Bolsonaro aprova o “juiz de garantias” e declara a respeito da confiança  que nele tem:  “Meu pai dizia: confie 100% em mim e na mãe” e em mais ninguém.  Ou do Guedes, corroborando o papel do presidente como jurado de concurso de beleza  e reiterando a ameaça de reedição do AI 5, brandida pelo deputado Eduardo Bolsonaro.  Ou do Tarcísio, desautorizado em propostas de desintegrar o  código de trânsito. Enquanto isso, o que realmente interessa ao país avança à margem do executivo.  Talvez seja esta a principal missão de Bolsonaro: distrair o povo e a oposição com baboseiras, enquanto os ministros e o congresso trabalham.  Triste país, cuja segunda opção era o Haddad!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *