O Tempo não Para

Objeto de debate entre filósofos, estrategistas, cientistas políticos, sociólogos e vasta gama de intelectuais, a contrainformação carece de uma definição única, comportando, assim, várias acepções, no esforço de distingui-la da contrainteligência, da desinformação e de outros processos de manipulação da informação. A fim de não aprofundar essa discussão, o que não caberia neste espaço, atenho-me à definição que a enuncia como sendo a divulgação de informações contraditórias que, contrapondo-se à realidade dos fatos, visam a confundir o inimigo, no intuito de remover ou minimizar obstáculos à implementação de determinado objetivo.

Trata-se de estratégia amplamente utilizada por militares durante a II Guerra Mundial. O melhor exemplo foi a invasão da Normandia pelos Aliados, em junho de 1944. A ação foi precedida de uma operação fictícia, denominada Guarda-Costas, que ludibriou o Alto Comando nazista quanto à data e ao local da operação que efetivamente invadiria o continente europeu, no Dia D. A Guarda-Costas divulgou informações de que o ataque às forças alemãs seria através dos Países Nórdicos, do Canal da Mancha (Pas-de-Calais), de Gibraltar, do sul da França (Marselha), dos Bálcãs e até da Turquia ou do sul da Grécia, enquanto o desembarque dos Aliados era sigilosamente preparado para ocorrer na costa da Normandia.

Não é de estranhar, portanto, que a contrainformação, possivelmente implementada pelos militares que cercam Bolsonaro, seja uma das linhas mestras do seu governo. Sem prejuízo do que ocorre na Saúde (felizmente, com sinal trocado), na Educação, na Cultura, nas Relações Exteriores e em outras áreas, a contrainformação mais notória diz respeito ao Meio Ambiente. Assim, enquanto Bolsonaro assume compromissos em foros internacionais, ONU e COP26, no sentido preservar a Amazônia, combatendo o desmatamento, o desmonte sistemático e progressivo do esquema de proteção do bioma segue de vento em popa. Estima-se, inclusive, que 2022 será um dos piores anos no item manutenção da floresta, uma vez que, sem a garantia de que Bolsonaro será reeleito, madeireiros, garimpeiros e grileiros aproveitarão o tempo que resta de seu governo para “passar a boiada”.

A respeito, Cazuza nos deixou uma bela definição poética de contrainformação, muito oportuna nos tempos atuais:

“A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para”

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