Terceirizar e Centralizar

Terceirizar é a palavra mágica do momento. Não em sua acepção econômica, ou seja, contratar terceiros para a realização de serviços, mas em seu pouco utilizado significado político. Passa a fazer dobradinha, no caso, com o vocábulo centralizar. Em resumo, a ideia é votar em candidatos de centro-direita ou de centro- esquerda que interrompam a nefasta polarização política. Não é tarefa fácil no Brasil de hoje. Por um lado, o país é governado por um partido de esquerda que, embora não seja extremista ou antidemocrático, possui satélites radicais, felizmente inócuos, e acredita que o avanço da economia depende da atuação do estado e que o combate à concentração de renda exige gastos além das possibilidades do erário. Por outro, contamos com um obeso partido de extrema-direita, cujos membros só pensam naquilo, ou seja, reabilitar seu líder, a fim de instaurar um governo autocrático, e, pasmem, dispõe de embaixadores no exterior, a fim de auxiliá-lo a realizar tal intento, às custas de setores da economia brasileira e da subjugação do sistema jurídico nacional.
Quanto a terceirizar e centralizar, a extrema-esquerda está em desvantagem, uma vez que a extrema-direita conta com a solidariedade de mais candidatos, não necessariamente extremistas, à presidência da república. Um deles abrirá caminho, fatalmente, até o segundo turno, nas eleições de 2026. A plêiade é considerável e abrange de governadores a membros da família Bolsonaro que, diante da inelegibilidade do ex-presidente, disputam na unha sua errática herança. Contudo, com exceção de acertos pontuais trombeteados pelos governadores que os promovem, as plataformas se limitam, até o presente momento, a ações que favorecem o clã Bolsonaro e, de roldão, os golpistas do 8 de janeiro, como a anistia ampla, geral e irrestrita (saudades do Figueiredo?); protegem os políticos enredados, como o impeachment de Moraes e o fim do foro privilegiado, a fim de livrá-los das garras do ministro e do STF, e uma agenda de costumes talhada para cooptar evangélicos incautos. Nenhuma das ações é do interesse geral da população. Enquanto isso, a extrema-esquerda conta apenas com Lula e sua incapacidade de eliminar cacoetes sindicalistas dos anos 80 do século passado.
Neste contexto, as dificuldades do país, ameaçado, ainda, pela maior potência do planeta, e refém da polarização, que esvazia qualquer tentativa de diálogo político, resultam, sobretudo, do sistema de presidencialismo de coalizão ou cooptação, uma espécie de armadilha, dissimulada na Constituição de 1988, que, ao ser disparada, criou um insustentável sistema híbrido de governo, nocivo à nação e aos três poderes constituídos. O sistema implementou um semipresidencialismo informal, sem regras e limites, que, caso perdure, obrigará qualquer candidato que seja eleito presidente, em 2026, a enfrentar sérios problemas de governança, uma vez que a tendência é o agravamento da usurpação das atribuições do executivo pelo legislativo, cada vez mais empoderado, partidarista e sedento por verbas a serem aplicadas em suas paróquias, em detrimento de projetos nacionais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *