O Abandono do Titanic

Comenta-se em Brasília, não mais a boca pequena, que o Centrão ou, pelo menos, seu numeroso baixo clero, do qual o candidato do PL faz e fez parte, durante três décadas, como parlamentar, está abandonando o Titanic, antes que o transatlântico encontre seu iceberg. Avaliam que o pelista atingiu sua marca máxima de intenções de voto, ou seja, algo em torno de 30% a 35%, enquanto o baú de benesses, cujos frutos dificilmente serão colhidos nos três meses que antecedem as eleições, está vazio.


Sabem, ademais, que a “PEC Kamikase”, que liberou mais de R$ 40 bilhões para a farra eleitoreira do seu candidato, tem data de validade e cobrará seu preço em 2023, quando o Centrão será responsabilizado pelo rombo nas contas públicas. Querem, assim, estar bem na fotografia com quem parece ser o ganhador do troféu, em outubro próximo. Enfim, acusam Arthur Lira de ter sido leniente com o governo, colocando-se, ao contrário do que esperavam, a reboque do Presidente da República.


Por outro lado, o prazo para o pagamento das emendas do orçamento secreto, o mensalão que Arthur Lira cobrou para engavetar 144 pedidos de impeachment, expirou em 2 de julho, encerrando-se, assim, a postura da galinha dos ovos de ouro. Paroquialmente distribuídas, as emendas obtiveram pouca ou nenhuma repercussão nacional. O grosso do eleitorado ignora onde essa dinheirama foi parar, mas não o fato de que foi utilizada para adquirir bens superfaturados e de que não foram agraciados.


Os dissidentes do Centrão estariam, portanto, esperando apenas o fim do recesso parlamentar para redirecionar seus apoios, priorizando interesses regionais que possam ajudá-los a se reeleger. Os que não fecham com o PT, mas não desejam confrontá-lo abertamente, acreditam, ainda, que apoiar a candidatura do MDB seria melhor do que seguir ao lado do pelista. Mulher, conservadora, com baixa rejeição e bom trânsito político, a candidata apresentaria condições de crescer, não ao ponto de ameaçar o petista, mas, pelo menos, ao de tirar o pelista do primeiro turno e esvaziar a polarização.


Quanto ao PDT, seu candidato estaria correndo por fora da raia, sem chance, desde 1998, de ultrapassar um lugar terciário nas intenções de voto, o que é lamentável, pois, a meu ver, é mais preparado do que todos os demais concorrentes. Pena que, no espectro à esquerda, colida com o petista e, à direita, com a emedebista, uma vez que o candidato do PL, de extrema direita, sequer conta nesta aritmética. Infelizmente, a piada, em Brasília, é que o pedetista não é resiliente, mas reincidente.

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