O Retorno da Esquerda

Em 2018, quando fazia campanha para João Amoêdo, em quem obviamente votei no primeiro turno, publiquei no blog passealimpo e nesta rede social entrevista na qual o candidato do NOVO advertiu que, caso os liberais – termo utilizado para definir a direita – ganhassem o pleito, teriam de fazer um governo exemplar ou a esquerda retornaria com força redobrada. Diante dos insucessos do governo Bolsonaro e da recente pesquisa do Datafolha, em que o Capitão perde, de lavada, do Lula, em ambos os turnos, Amoêdo pode ser considerado um vate.

O mais frustrante, no entanto, é que o candidato que venceu as eleições de 2018 não é nem liberal, nem de direita. De fato, Bolsonaro se autoproclamou de direita, mas é, na realidade, representante de uma ideologia baderneira de condomínio de bairro da periferia da Zona Sul do Rio de Janeiro. Por outro lado, de liberal, o ex-Deputado do baixo clero, nada tem. Com um passado estatizante e intervencionista, foi conduzido, por oportunismo, a abraçar a causa liberal pelo economista que, jocosamente, chamou de “Posto Ipiranga”, ou seja, a solução para todos os problemas econômicos do país, a respeito dos quais se declarou ignorante. Boicotar o “Posto Ipiranga”, que teima em se manter aberto, apesar da falta de combustível (apud Doria), foi, portanto, uma questão de tempo.

Antes de chegar à metade do mandato, deu o tiro de misericórdia no combate à corrupção, uma das plataformas da sua campanha, e passou a imiscuir-se com o Centrão, cujas fileiras jamais abandonou. Não bastasse, assumiu atitude negacionista diante de uma das maiores catástrofes sanitárias que o país já enfrentou, combateu as medidas de prevenção não farmacológicas e procrastinou a compra de vacinas, cuja disponibilidade sofre, ademais, interrupções, em virtude de seus constantes ataques à China, fornecedor do famigerado IFA, o insumo necessário à produção do imunizante. Isto, para mencionar apenas as áreas mais claudicantes do governo, a econômica e a sanitária, sem nos estendermos à educação, à cultura, às relações exteriores, ao meio ambiente etc.

No que diz respeito à espantosa recuperação da esquerda, motivada pelo quadro acima descrito, não resta dúvida de que, caso sua elegibilidade não seja caçada por capricho de algum Ministro do Supremo Tribunal Federal, Lula estará, indubitavelmente, no segundo turno das eleições de 2022. Resta, portanto, à direita autêntica e tradicional deste país, a fim de evitar o retorno da esquerda e das cansativas trapalhadas de Bolsonaro e família, verter seus esforços em uma candidatura capaz de substituir o Capitão no segundo turno e enfrentar o Lula. Nada fácil, tendo em vista a insistência de Ciro Gomes e Marina Silva de se candidatarem, drenando votos da centro-direita, e a aglomeração do meio de campo patrocinada por João Doria, Eduardo Leite, Luiz Henrique Mandetta e Luciano Huck. Sérgio Moro, por enquanto, está fora do páreo, pois notificou seus empregadores que não participará das eleições.

Diante deste panorama desalentador, continuo apostando num “outsider”, alguém que, no último instante, empolgue o eleitorado. Vou além. Conforme previ em fevereiro (“A Nova Estrela dos Democratas”), acredito que a “zebra” vem sendo cautelosamente preparada pelo seu partido – o único efetivamente de direita, sem penduricalhos socialistas, no espectro político – e se chama Rodrigo Pacheco. Jovem, com uma carreira meteórica e articulado – eximiu-se brilhantemente do ônus de instalar a CPI da pandemia –, ostenta os predicados, que faltam a Bolsonaro, dos líderes de direita, ou seja, é educado, culto, elegante no trato, respeita as instituições democráticas e é um profissional liberal financeiramente bem-sucedido.

Em seu discurso de posse na Presidência do Congresso – elóquio digno de candidato – elegeu Juscelino Kubitschek como patrono e, como se não bastasse, reúne, a exemplo de Tancredo Neves, os decantados dotes dos políticos mineiros, ou seja, a ambição, a paciência, a discrição e a inclinação ao diálogo, à negociação e à conciliação. Cumpre notar, ainda, que o DEM livrou-se recentemente de filiados incômodos que poderiam obstar uma candidatura de Pacheco. Trata-se do Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que se filiou ao PSD, cuja fidelidade a candidatos não foi definida, mas que, apesar de bravatas independentistas, poderá apoiar Bolsonaro; do ex-Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que “namora” Luciano Huck, e do Vice-Governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que certamente favorecerá João Doria. O conflito com o Capitão já foi deflagrado, através do filho 01, o Senador Flávio Bolsonaro, que chamou Pacheco de ingrato e traidor.

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